Um dos estádios mais tradicionais do interior do Brasil, o Parque do Sabiá poderá passar por uma das mudanças mais significativas desde sua inauguração. A troca do gramado natural pelo sintético foi mencionada publicamente pela primeira vez nesta semana pelo prefeito de Uberlândia, Paulo Sérgio, durante encontro com a imprensa. A ideia, ainda em estágio inicial, gerou debate entre autoridades, torcedores e representantes do Uberlândia Esporte Clube, agora sob nova gestão como Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
A possibilidade surge em meio a um momento de reestruturação do clube e do futebol local. O Parque do Sabiá, inaugurado em 1982 com um amistoso entre a Seleção Brasileira e a Irlanda, possui hoje o mesmo gramado natural plantado há 43 anos. A manutenção é feita por equipes da Fundação Uberlandense de Turismo, Esporte e Lazer (Futel), órgão municipal responsável pela administração do estádio.
A eventual adoção do gramado sintético tem como principal motivação a ampliação do uso da arena para além do futebol. Segundo a Prefeitura, a relva artificial permitiria maior frequência de eventos, como shows e atividades culturais, reduzindo os custos de recuperação e preservação da grama após usos intensivos. O modelo é semelhante ao já adotado por grandes arenas do país, como o Allianz Parque e a Arena da Baixada.
O assunto foi levantado em uma reunião entre representantes do Município e da nova diretoria do Uberlândia Esporte Clube, que no fim de junho oficializou sua transformação em SAF. O empresário Fábio Mineiro, novo controlador do clube e ex-presidente do Athletic Club, assumiu 90% das ações e já demonstrou interesse em modernizar a estrutura usada pelo time alviverde.
Em nota oficial enviada ao ge, o Uberlândia SAF confirmou que acompanha com interesse os estudos relacionados ao gramado do estádio. O clube ressaltou a importância do diálogo com a Prefeitura e a Futel, destacando que qualquer eventual alteração na estrutura do Parque do Sabiá precisa ser fruto de planejamento conjunto e visão estratégica. O texto afirma que o Uberlândia “mantém estudos internos sobre o assunto, sempre considerando o melhor para o projeto esportivo da cidade”.
A Futel, por sua vez, informou que ainda não há negociações em curso ou qualquer decisão tomada. A Prefeitura também se pronunciou de forma cautelosa, classificando o tema como uma “avaliação em fase embrionária”, reforçando que trata-se, por ora, apenas de uma possibilidade sendo considerada.
Enquanto o futuro do gramado é discutido nos bastidores, o Parque do Sabiá segue em funcionamento como principal palco esportivo de Uberlândia e região. Com capacidade para 53 mil pessoas — embora o Corpo de Bombeiros libere atualmente cerca de 39 mil para jogos — o estádio é conhecido por sua grandeza e por ter recebido grandes confrontos do futebol brasileiro nos últimos anos.
Desde 2023, a arena foi escolhida por clubes como Cruzeiro, Atlético-MG, Vasco, Flamengo e Palmeiras para partidas do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e estaduais, aproveitando-se da estrutura ampla e da localização estratégica. Ainda assim, o uso mais frequente e o calendário intenso reforçam a discussão sobre a viabilidade de um gramado mais resistente e versátil.
A troca do piso é um movimento que tem ganhado força em diversas cidades do país. No entanto, o tema ainda divide opiniões entre especialistas, torcedores e atletas. Enquanto alguns defendem a modernização como solução para uso contínuo e economia de recursos, outros apontam riscos à performance dos jogadores e maior desgaste físico.
Com um histórico simbólico para Uberlândia e para o futebol mineiro, o gramado do Parque do Sabiá carrega mais do que uma função técnica: ele representa décadas de memórias esportivas e culturais da cidade. Qualquer mudança, portanto, deverá ser feita com cautela, ouvindo todos os envolvidos e respeitando a tradição do local.
Por ora, o que existe é apenas um estudo. Mas o debate está aberto — e o futuro do Parque do Sabiá pode estar prestes a mudar.